Helena Hissacko Iwauchi

1941 - 2020

Escrevia cartas para seus parentes do outro lado do oceano. Cartas em japonês.

Uma montanha forte e imponente como o Monte Fuji. Lá no pico, paz e tranquilidade. É assim que Helena é lembrada pela sobrinha Kelly.

A tia Helena tinha raízes no Japão, ainda que tenha nascido no Brasil. Nas horas livres, quando não estava trabalhando na farmácia da Santa Casa de Campo Grande (MS), gostava de ver novela, ir à igreja e escrever cartas em japonês para sua família.

Tal qual a suavidade com que se é preciso desenhar um ideograma era a forma como Helena vivia. A suavidade se traduzia em atos de gentileza sem seletividade. "Seja gentil e educada com todas as pessoas", era o que ela transmitia, conta a sobrinha.

Não importava onde a tia Helena estivesse morando, ela se deslocava de ônibus, táxi ou de qualquer outro jeito para estar presente em todos os aniversários da sobrinha Kelly, que era também sua afilhada de batismo, e para levar um bolo. Bolo com forma, cor e gosto de..."você é importante".

Kelly lembra que a tia Helena gostava de brincar com ela. Entre gentilezas e brincadeiras, lá estava a madrinha recriando sabores do Japão em sua casa, como era o caso do "mochi" ou "moti" ─ um bolinho feito de arroz glutinoso moído em pasta e depois moldado ─, e das inesquecíveis bandejas recheadas de pastéis preparados por ela.

Helena, que amava costurar, tecia as próprias roupas. Morou por muito tempo em uma casa quentinha, com uma mesa sempre farta, um pé de melão-de-são-caetano no quintal e com um cachorro que ficava embaixo da cama toda vez que chegava visita. Após os falecimentos dos dois irmãos com quem Helena dividia a casa, precisou seguir a vida sozinha.

Kelly fala da tia como quem recorda de uma paisagem inesquecível. "Sabe, mesmo as montanhas podem ser abaladas, mas elas permanecem."