1943 - 2020
Sua comida tinha um sabor especial, que só ela sabia fazer.
A união de cores vibrantes, estampas florais e tonalidades variadas refletem exatamente a personalidade de Dona Zezé. Não podia ver alguma roupa que se encaixasse nessa descrição que seu coração já palpitava de felicidade. E ela era assim, tão alegre quanto as peças que vestia. Vaidosa, do tipo que só iria a um evento se tivesse passado antes pelo salão de beleza.
Sua casa também estava sempre cheia de enfeites de flor, objetos coloridos e, claro, fotos da família toda espalhadas. O espírito de felicidade era presença marcada em cada cantinho. A família era o bem mais sagrado de Dona Zezé. Ela fazia o possível e o impossível pelos filhos, Ieda, Iane, Wadson e Domingos Júnior, frutos do casamento com seu companheiro de vida, Domingos Costa.
Por morar longe de sua família e, a fim de facilitar o contato com os entes queridos, Dona Zezé aprendeu a utilizar um aplicativo de mensagens. “Todos os dias ela mandava mensagem no grupo da família para saber como estavam, sempre muito preocupada com todos”, conta o filho Domingos Júnior.
Seus quatro netos Eduan, Leonardo, Gabriel e Catarina eram suas paixões. Foram os únicos que conseguiram amolecer um pouco o coração dessa mulher de personalidade forte. Dona Zezé esperava os finais de semana chegarem para poder passar um tempo junto deles. Júnior, que morava com ela, estava sempre pronto para levá-la e buscá-la.
Em outros tempos, reunir a família em datas comemorativas eram os momentos que mais a faziam feliz. Durante a pandemia, seu último Dia das Mães teve que ser celebrado de uma maneira diferente, com uma chamada de vídeo entre todos. Mas isso não impediu que ela sentisse todo o amor dos filhos, como se estivessem fisicamente ao seu lado.
Mãe parceira e protetora até demais – do tipo leoa –, embora nem sempre conseguisse resolver os problemas dos outros por conta própria, dizia “Entrega na mão de Deus, que Deus está no controle de tudo”. Sua serenidade em levar a vida não deve ser confundida com passividade, muito pelo contrário. Dona Zezé sempre batalhou muito para cada conquista e nunca desistiu diante das adversidades. Ela era o ponto de apoio para todo mundo. Ensinou a força e a determinação aos filhos, mas, em todo o caso, estava sempre com um conselho e um colo à disposição para acalentar os corações aflitos. “Ela tinha vontade de proteger a gente de tudo, embora nem sempre conseguisse. Era uma mãe muito amorosa e cuidadosa”, relata Júnior.
O tempero de sua comida era diferenciado, era ele quem dava o toque especial para as celebrações e, principalmente, para as refeições do dia a dia. Alguns dos preparos que davam água na boca eram seu “bolo de chocolate e as comidas típicas do Maranhão, como o mocotó, que todo mundo gostava”, lembra Domingos Júnior. Dona Zezé era apaixonada mesmo por comidas como pizza, hambúrguer, batata frita. Embora não pudesse comer por ser hipertensa e diabética, sempre dava um jeitinho de se deliciar.
Suas horas vagas eram preenchidas com as mais diversas atividades, desde fazer palavras cruzadas, ler a Bíblia e até assistir aos noticiários e programas que falam sobre as celebridades. Boa de prosa, Dona Zezé não dispensava uma conversa, seja por telefone para falar com os irmãos; com Júnior, quando ele chegava em casa; ou, especialmente, com sua amiga e vizinha Daguia – a quem considerava como se fosse uma filha.
Adorava relembrar os momentos engraçados que ela e os irmãos passaram quando crianças nas reuniões de família. Deliciava-se a cada memória e gargalhava como se fosse a primeira vez que ouvia cada história. E é assim que ela será eternamente lembrada: com uma alegria contagiante e um amor demasiado pela família, amigos e Deus.
Maria nasceu em Pinheiro (MA) e faleceu em São Luís (MA), aos 77 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Maria, Domingos Costa Júnior. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Marina Teixeira Marques, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 23 de dezembro de 2020.