1950 - 2020
Um observador silencioso.
O silêncio era a marca registrada de João Batista, ou tio Batista, como era conhecido pelos vários sobrinhos em Fortaleza.
Tio Batista gostava de ficar ao pé do muro de casa observando a rua, sempre silencioso. O silêncio era quebrado apenas para alguns conhecidos, que recebiam o privilégio de ganhar um “boa tarde” dele.
Enquanto o muro era seu companheiro durante as tardes, as ruas faziam parte da sua rotina pela manhã. João Batista gostava de acordar cedo e fazer uma hora de caminhada pelo bairro.
Nos encontros familiares, tio Batista e seu silêncio também estavam sempre presentes. Com exceção de quando o assunto era o Ceará, seu time do coração. Aí sim ele conversava e colocava para fora seu carinho pelo Vozão.
Segundo a família, essa sua característica marcante era consequência de um quadro de depressão que sofreu durante a juventude. Isso impediu tio Batista de casar, ter filhos ou poder trabalhar registrado. Porém, seus 12 irmãos estavam sempre presentes para acolher e cuidar dele. O silêncio não era um problema. Para Grasiele, sua sobrinha, seria possível descrever o tio numa única palavra: calma.
João Batista deixou sua família em maio de 2020, vítima do novo coronavírus. Faltavam alguns meses para completar 70 anos. Seu aniversário é no dia 26 de dezembro, um dia após o Natal. Tio Batista não costumava comemorar a data, mas estava sempre presente, assim como esteve nas orações dos familiares no Natal passado. Tio Batista não é só um número.
João nasceu em Santana do Acaraú (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha de João, Grasiele Oliveira Lima. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Cléberson Alcântara dos Santos, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 6 de janeiro de 2021.