1979 - 2020
Fazia torcida e ficava genuinamente feliz pelas conquistas alheias.
“Ele era grande, e a grandeza estava na sua essência: tinha um enorme coração, daqueles capazes de abrigar o mundo. Para ele não havia limites nem lugar onde o amor e a solidariedade não pudessem alcançar”. Assim era o Ricardo, conta sua sobrinha Laís.
Nasceu numa família de feirantes e ainda criança ia, com os pais, para feira vender roupas. Após o trabalho, o menino ainda tinha energia pra gastar nas peladas, onde desfilava as chuteiras junto aos guris. O trabalho como feirante o acompanhou pelos anos; não fez faculdade, mas era muito inteligente e tudo o que ele fazia dava certo, como o pôquer, um jogo que exige perspicácia e ele se dava muito bem; era o melhor, do interior de São Paulo, tinha até patrocínio. Ele pretendia ir para Las Vegas jogar, depois que a pandemia acabasse.
O Ricardo era um homem cheio de ideias e planos na cabeça: ele morou um período no Rio de Janeiro, vendendo livros, depois de um tempo voltou e abriu um restaurante; trabalhou também como guia da cidade e quando as feiras de Food Truck chegaram ao Brasil, ele as levou às regiões menores de São Paulo; evento que movimentava as cidades. O Ricardo era um homem de visão que enxergava muito à frente.
Ele sonhava dias melhores e fazia questão de incentivar os sonhos nas pessoas. Tinha gana de crescer, mas não sozinho: queria que todos, à sua volta, tivessem oportunidades e os provocava com palavras de incentivo e, às vezes, até com ajuda financeira, como fez com a Lala, apelido carinhoso pelo qual chamava a sobrinha Laís: pagou o seu curso de inglês e até comprou um computador para que ela pudesse estudar.
Ele fazia coro ao sonho da sobrinha de se formar em medicina, incentivando, aconselhando e afastando, de forma gentil, a pressão da família, para que a Lala tivesse tranquilidade suficiente para focar no que era necessário. Sempre, em época de provas, mandava mensagens a ela desejando-lhe boa sorte; era como um anjo de guarda, zelando pelo bem estar dela. Tratava-a como uma filha e planejava ajudá-la com algum dinheiro em pequenos gastos, para quando iniciasse o curso que é ministrado em período integral.
Ele era o cara presente, que estava sempre pronto a ajudar, não importando o avançado da hora; certa vez chegou a sair de outra cidade para socorrer a irmã (mãe da Lala), e com os outros irmãos era do mesmo jeito, porque, afinal, o Ricardo era assim.
Ele conheceu a Gabi, sua esposa, quando jogava pôquer no local onde ela trabalhava, e ela lhe deu seu maior presente: os filhos Lorenzo, que já estava a caminho quando ele a conheceu, e o Enrico, que veio depois. O último herdou as características físicas do pai e o primeiro, seu jeito de andar, de falar. O Ricardo os amava, com todo o seu coração.
Era o pai babão, que falava dos filhos o tempo todo e para qualquer pessoa. Sonhava com a faculdade e a profissão dos meninos, e dizia que iria apoiá-los nas suas escolhas. Depois que os meninos chegaram ele mudou: deixou de sair para poder desfrutar da companhia deles por mais tempo. Toda semana chegava com fraldas e leite, mesmo que já as tivesse em grande quantidade.
A Laís não se lembra de época em que o tio foi tão feliz como o foi após se tornar pai do Lorenzo e do Enrico. Ele se divertia com os filhos nos passeios pelo parque, dançando e jogando bola. O Quique (Enrico) deu os primeiros passos pouco antes do Ricardo partir, por isso são poucas as lembranças; diferente do Zozo (Lorenzo) que sempre que ouvia o pai chegar de moto, saia correndo para encontrá-lo gritando: “papaizinho, papaizinho". Hoje o Lorenzo, ainda associa o som de uma moto com aquela felicidade.
O Ricardo foi um bom filho, carinhoso, sempre preocupado com a mãe que buscava todo fim de semana e a levava onde ela quisesse; foi um irmão presente; um marido e pai dedicado e apaixonado. Foi um grande amigo para quem precisasse do seu ombro e um super tio, orgulhoso da sobrinha, e que não se cansava de dizer: “minha sobrinha vai ser médica”.
Ricardo estará sempre presente na memória e nos corações daqueles que cativou.
Ricardo nasceu em Sorocaba(SP) e faleceu em Sorocaba (SP), aos 40 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela sobrinha de Ricardo, Laís Tavares Drago. Este tributo foi apurado por Claiane Lamperth , editado por Rosa Osana, revisado por Walker Barros Dantas Paniagua e moderado por Rayane Urani em 17 de agosto de 2021.