1975 - 2020
Hoje ela dorme na Lua, como sempre sonhou e certamente já deve ter feito amizade com toda a legião de anjos do céu.
Edna, que nasceu no interior de Goiás, foi para Rondônia ainda pequena e adotou a terra como sua.
Filha mais velha de três irmãos, neta e sobrinha mais velha da família, cresceu com a responsabilidade e cuidado que todo irmão mais velho carrega. Cuidou do seu pai - depois que este foi acometido por um AVC -, e de todos seus irmãos. Foi mãe muito jovem e se dedicou à única filha durante toda a vida, sendo mãe solo. Contou com a ajuda de sua mãe e irmãos para criar a menina e lutou para vê-la formada.
No dia da formatura, sentou na primeira fileira e aplaudiu de pé. Mais tarde, a viu se casando e formando sua própria família. Avó carinhosa e "coruja" foi a primeira a pegar o neto na hora do nascimento e o amava como se fosse seu filho.
Quando ela era criança pedia todas as noites para "dormir na lua", pois ela amava adormecer vendo a lua, no colo do seu pai. Assim, quando seu neto nasceu, deu a ele o apelido de "cara de lua", por seu rostinho ser tão redondinho e delicado.
Ela acompanhou o primeiro ano do neto com todo amor e dedicação e dizia que os primeiros passinhos do neto seriam em direção ao abraço dela.
Sempre paparicava as crianças, mas também sabia educar com propriedade. Tinha vários apelidos: no trabalho algumas pessoas a chamavam de "Tudo", porque ela adorava fazer tudo pelas pessoas, o afilhado chamava de "Nina", porque não conseguia falar "Dinda" e foi assim pela vida toda. Além desses, tinha também "Fofuxa" e "Ferreira", por causa do seu sobrenome. Resolvia problemas e tomava a frente de todos eles.
Trabalhou na área da saúde e era apaixonada pela profissão. Formou-se técnica de enfermagem e conseguiu iniciar os estudos na faculdade que era seu maior sonho. Batalhou na linha de frente em casos de COVID, na maternidade e posto de saúde, mesmo fazendo parte do grupo de risco.
Relembra sua filha Juliana que um dos dias mais felizes foi a sua festa de conclusão de metade da duração do curso de enfermagem, em que se emocionou muito por ver a mãe festejando algo cuja concretização iriam comemorar juntas no futuro.
Sua característica mais marcante era a disposição constante em ajudar as pessoas. Quando não conseguia dar conta sozinha, chamava quem podia para ajudar e não media esforços para que tudo desse certo. E o melhor: sempre com um sorriso enorme no rosto que era sua marca registrada, compactuando com o significado de seu nome, que é "alegria".
Sempre dizia para as pessoas: "tenha fé!". Vê-la triste ou estressada era raridade, pois seu sorriso sempre estava ali pra iluminar as pessoas ao seu redor; era muito animada.
Escutava muita música, desde MPB até um forrózinho. Limpava a casa ouvindo as canções, mas cantava tudo errado. Artista, fazia artesanatos e coisas de casa como hobby.
Gostava de conversar com a família. Dormia tarde e muitas vezes adormecia no sofá, quando não estava de plantão, só para curtir a presença da família, que era o centro de toda sua vida.
Era apaixonada por animais, principalmente gatos e cachorros, e quando não estava em casa pedia para que alguém não se esquecesse de alimentá-los.
Falante, começou a falar com nove meses de vida e nunca mais parou.
Conversava com todos e sobre tudo. "Lembro-me de pegar ônibus com ela quando era pequena e quando a gente descia, ela já tinha feito amizade com todos", conta sua filha Juliana.
Tinha vários sonhos e três deles eram conhecer a cidade de Gramado, ver a neve e dar uma vida melhor para sua mãe. Amava ir ao mercado ou ao shopping. Muitas vezes não tinha a intenção de comprar nada, mas sabia o preço de tudo e ajudava as pessoas a acharem qualquer coisa que precisassem e no lugar mais barato.
Amava sair para comer, mas sua comida preferida era um frango caipira e arroz com pequi; gosto que herdou da sua terrinha. Também não dispensava uma cervejinha ou um bom vinho.
Sua partida comoveu toda a cidade; ela recebeu muitas homenagens. Sua mãe Maria Eunice sentiu tanto a falta da sua filha que após 62 dias foi ao encontro dela na eternidade.
Edna deixou seu legado na Terra e agora fica bem pertinho da Lua cuidando de todos aqueles que um dia tiveram a oportunidade de cultivar e florescer em seu amor.
Edna nasceu em Ceres (GO) e faleceu em Porto Velho (RO), aos 45 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha, irmã e amiga, respectivamente de Edna, Juliana Maciel Faria Santos Hetkowski, Elva Ferreira Maciel e Joana Darc da Silva. Este tributo foi apurado por Hélida Matta, editado por Aléxia Caroline, revisado por Emerson Luiz Xavier e moderado por Rayane Urani em 1 de abril de 2021.