1949 - 2020
Apaixonado por Beatles, ateu com fé na vida pós-morte e com um mundo utópico em mente: era único!
Se tinha alguém que prezava pela liberdade, esse alguém era meu pai. Acho que ele tinha até certa dificuldade em se adaptar a valores que não faziam o menor sentido para ele.
Minha casa era um cenário diferente, com decoração de vinis de John Lennon por todo canto. Admirador dos Beatles, dos jovens de Maio de 68, de Lenin e Eisenstein, ele vislumbrava um mundo utópico sem religiões e estados nacionais.
Era um eleitor muito crítico, um homem sempre questionador e nos alertava para não acreditarmos em pessoas dogmáticas. Ele me apresentou, desde criança, a personalidades importantes através da leitura e me falou sobre a arquitetura modernista paulistana na República e sobre a importância dos imigrantes na construção da cidade. Que ironia do destino... Hoje, foi daqui de São Paulo que soube da partida de meu pai.
Ele nunca escondeu o absoluto fascínio que tinha por mim e por minha irmã. Era um ateu que acreditava em vida após a morte, pois tinha fé na expansão e transformação da matéria. Sobre sua partida, acho que posso repetir Geraldo Vandré em "Réquiem Para a Matraga": Se alguém tem que morrer, que seja para melhorar.
Paulo nasceu Primavera (PE) e faleceu Recife (PE), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.
História revisada por Denise Pereira, a partir do testemunho enviado por filho Leandro Gantois Luna, em 21 de maio de 2020.