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Maria de Lourdes Zanelli Rodrigues

1958 - 2021

"Na casa da vovó, tudo pode", dizia ela como desculpa para mimar as netas.

Lurdinha, como era carinhosamente conhecida, foi uma mulher doce, meiga e tímida. Como funcionária pública, dedicou-se com afinco ao trabalho em escolas. Tal cuidado, fazia com que as crianças nutrissem um carinho incondicional por ela, sendo muito querida por cada escola que passou.

Casou-se com Sebastião Luiz Rodrigues, o "Luizão". Os dois se conheceram em uma fábrica de refrigerantes, onde trabalharam juntos. A união de quase quarenta anos, até a sua partida, foi marcada por muito amor e cumplicidade. Luizão não media esforços para agradá-la; muito romântico, sempre a presenteava com flores e chocolates em datas comemorativas. Formavam um casal apaixonado que, por onde passava, causava admiração em todos. Desse amor, vieram os filhos: Luiz Alexandre, conhecido por Xande, e Fernanda.

Com o filho nutria uma conexão rara: eram unha e carne, cúmplices na vida. Bastava um olhar que ela reconhecia quando ele não estava bem, e prontamente enviava uma mensagem perguntando: "Filho está tudo bem?" Era mágico como ela sabia das coisas! Com Fernanda nutria um companheirismo sem igual. A filha, que morava junto com ela, sempre foi seu braço direito na organização e cuidados com o lar.

Dona de um coração de ouro, fazia de tudo para ajudar quem amava. Natália, a nora, conta sobre a gratidão que sente por Lurdinha: "Considerava minha sogra como uma segunda mãe. Ela torcia demais pela nossa felicidade e para que realizássemos nossos sonhos e planos. Lembro de como ela vibrou, quando meu marido e eu conseguimos comprar nossa casa. Já passamos por fases difíceis, mas ela nunca nos desamparou, estava sempre ali: nos dava mantimentos e guardava até um dinheirinho para nos ajudar. Ela foi a melhor pessoa que eu conheci".

Foi um exemplo de filha, mãe, esposa, sogra e avó. Amava incondicionalmente as netas, Lorena e Eloah, que dizia serem as versões em miniatura do avô Luizão. Quando se aposentou foi um dia de festa, pois, dizia que teria mais tempo para ficar com as netas. A vida também lhe presenteou com netos de coração: Murilo, a quem ela sempre devotou carinho e cuidado, e Vinícius, filho da nora Natália, que carinhosamente a chamava de Tia Lourdes.

Tinha como lema: "Na casa da vovó, tudo pode!" E mimava as netas, dando doces às escondidas e deixando que fizessem travessuras. "Por ela ter sempre trabalhado em escolas, cuidava das meninas com todo carinho do mundo e adorava ser a professora delas. A Eloah foi matriculada em uma escola onde meu esposo e eu estudávamos quando pequenos, que fica do lado da casa de minha sogra. Lurdinha estava toda animada por buscar a menina depois das aulas. Isso ficou marcado para a gente, pois, aquele abraço apertado na saída da escola, não mais se realizará", conta a nora.

Nas horas livres, amava ir ao Clube Náutico Taquaritinga, onde era sócia há mais de trinta anos e tinha uma barraca junto com o marido. Essa era a sua maior diversão e depois que as netas nasceram, levava as meninas para brincar na areia e descer no toboágua, além de ficar na piscina observando as crianças. Aventura é uma palavra que não fazia parte do seu vocabulário. Medrosa, todas as vezes que pegava a estrada, o carro não podia ultrapassar os 50 quilômetros por hora que ela se desesperava e dizia que passaria mal. Sempre ríamos bastante. Suas músicas favoritas sempre foram as do Rei Roberto Carlos...impossível não lembrar dela.

Sua felicidade era reunir quem amava para um almoço em família. Mesmo não sabendo cozinhar, preparava tudo com muito capricho: gostava de decorar a mesa e tinha que estar tudo combinando, bem do jeitinho dela. Seu prato preferido era frango assado, dizia sempre que a "pelinha" do frango era a melhor parte.

"Que falta nos faz! Nunca mais receberei suas mensagens matinais que sempre diziam: 'Bom dia nora! Como está nossa neguinha?' Ficaram as lembranças da doçura e do cuidado dela com tudo e todos, além da lembrança do ser mais especial e iluminado que já conheci", recorda Natália.

Maria nasceu em Dobrada (SP) e faleceu em Taquaritinga (SP), aos 62 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela nora de Maria, Natália Cristina Antonio Rodrigues. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Fernanda Queiroz Rivelli, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 20 de dezembro de 2021.