Sobre o Inumeráveis

José Almiro dos Santos

1952 - 2021

Um homem que gargalhava, torcia pro Esporte Clube Bahia e fazia questão de ouvir "A bênção, pai" todo dia.

José Almiro deixou o interior de Sergipe ainda na adolescência para procurar trabalho em Salvador e tornou-se um baiano de coração.

Torcedor do Esporte Clube Bahia, nunca deixava de ligar para o filho quando o time ganhava. “Sabe quanto foi o jogo hoje?”, perguntava ao filho, torcedor do time rival, Vitória Futebol Clube. Porém, quando o Bahia perdia, evitava abrir a boca...

Quando novo, era galanteador e namorador. Na verdade, quem o conheceu diz que ele foi assim a vida toda, fato que pode ser comprovado pelo número de vezes que se aventurou em novos casamentos.

Sua gargalhada era a sua característica mais marcante, em tom alto, forte e vibrante. Mas também tinha um abraço único, com tapas nas costas para fazer barulho, além de um beijo na testa inesquecível, conforme lembra Aldilene, uma de suas filhas.

Almoço, só de garfo e faca. Nem em sonho ele aceitava sujar as mãos. E amava sua cervejinha.

Gostava de praia? Sim. Mas não gostava de sujar os pés na areia.

Cachorros? Ah... amava todos que via. Cumprimentava todos os cachorrinhos de rua. Quando passavam por ele, pedia para ver o focinho.

Sempre de chapéu na cabeça, homem de conversa fácil e agradável, sorridente, divertido e amigo. Não guardava um rancor no coração. Era uma presença constante na vida de todos.

Trabalhador e honesto, achava que ficar em casa era entediante.

Sempre rezava pedindo proteção para ele e para todos.

Apaixonado pela família, estava sempre junto do seu irmão. Amava conversar, passava horas ao telefone com suas irmãs de Sergipe. Era o tio preferido de muitas sobrinhas.

Mas o que ele mais amava mesmo era ser pai, orgulhava-se muito dessa conquista. Como ele mesmo dizia, era um pai coruja. Não morava com os filhos, mas fazia questão de ligar para eles todos os dias. “A benção, pai”, ele ouvia sempre de manhã e à noite. Perguntava sempre para os filhos: "Já chegou ao trabalho?", "Já almoçou?", "Vai sair hoje?", "Por que não foi dormir ainda?", "Se comporte, minha filha". Estavam longe, porém mais perto do que muitos pais e filhos que moram juntos.

Teve seis filhos, sete netos, um bisneto e, recentemente, soube que poderia ser o pai de mais uma criança.

Realizou o sonho de ir para Sergipe rever sua família e apresentar os filhos. Nunca existiu um pai mais orgulhoso no mundo, indo de porta em porta mostrar seus maiores tesouros.

Viveu, sorriu, brigou, amou, chorou, conquistou, orgulhou-se, enfim, foi feliz!

“Pai, painho, Miro, Tio Zé, Almiro, Zé, homem de várias histórias e vários sorrisos. Foi muito amado e sabia desse amor”, orgulha-se a filha.

As lembranças e todo o amor ficaram em forma de saudade, uma saudade doída e bonita, que faz brotar lágrimas nos olhos e sorriso nos lábios.

“O que nos consola é a certeza de que ele se encontrou com seu amado pai, aquele de quem não conseguiu se despedir em carne, mas que certamente se reencontrou em espírito. Te amamos, pai. Saudades...”, declara Aldilene em nome da família.

José nasceu em Campo de Brito (SE) e faleceu em Salvador (BA), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de José, Aldilene Costa dos Santos. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Fernanda Queiroz Rivelli, revisado por Paula Ledo dos Santos e moderado por Rayane Urani em 29 de abril de 2021.