1949 - 2021
Amava o Natal e não cansava de afirmar que Natal sem tâmaras, não era Natal.
Só Deus sabe porque Hilma não gostava de seu primeiro nome e preferia ser chamada de Cristina ou Cris.
Cristina viveu uma história de amor que se iniciou dentro de um ônibus quando foi vista por um certo rapaz que, ao vê-la pela primeira vez, ficou encantado. Tão encantado que, na hora de descer, pegou em sua mão e isso foi tomado por ela como uma afronta e, então, muito séria, olhou para ele como se dizendo: "Te manca!"
Passados alguns dias, com uma ajuda do destino, ele descobriu que aquela moça encantadora era amiga de uma amiga sua. Ele aproveitou que era aniversário de uma sobrinha e pediu a esta amiga para levar à festa aquela que viria a ser o grande amor da sua vida.
Pronto! A partir dali construíram uma linda história de amor, que completaria 50 anos caso ela não tivesse sido contaminada pelo novo Coronavírus.
Cristina era uma mulher ímpar, inteligente e que adorava ler. Isso fazia dela a consultora permanente dos filhos que, diante de dúvidas sobre qualquer assunto, sabiam que era ela quem sempre sabia a resposta.
Em 1991, uma filha decidiu prestar vestibular para o curso de Letras e Cristina, para acompanhar e dar forças, inscreveu-se também. E foi aprovada conquistando o 43° lugar enquanto a filha foi aprovada no 103°. Cursar a faculdade como colegas, as tornou ainda mais amigas do que já eram.
Ela era tão ativa, tão cheia de vida, que todos achavam que eram irmãs até que os colegas de turma foram descobrindo aos poucos que aquela dupla incrível, na verdade, era composta por mãe e filha. Foram anos lindos para as duas! Ela sempre tirava notas maiores que as da filha e esta, sem competição, sentia-se muito orgulhosa dos feitos da mãe.
Quando se formou, foi contratada para dar aulas de Português em uma escola pública onde atuava não somente como professora, mas, sim também como uma mãe que tratava os alunos como se fossem seus filhos.
Cuidava tanto deles, que ia descobrindo, por sua iniciativa, fatos significativos da vida deles. Assim, ela ajudou de forma diferenciada muitos deles e eles confiavam nela até de olhos fechados.
Em família era bastante cuidadosa e presente a ponto de, mesmo trabalhando numa escola fora da cidade de Belém, na hora do almoço ir em casa só para ver como todos estavam, fazer um arroz quentinho, dar um beijo em cada um e depois retornar correndo para ministrar as aulas do período da tarde.
Cris tinha umas ideias e umas frases que ficaram para a história da família. Certo ano, próximo do Natal, ela pediu que o marido comprasse tâmaras. Ele foi e quando voltou disse que não teve coragem de comprar, porque elas estavam muito caras. Ela rebateu dizendo: "Natal sem tâmaras não é Natal, Roberto!"
Para que ela foi falar aquilo? Todos caíram na gargalhada e, nos Natais seguintes, todos repetiam a sua frase “tirando sarro”, e ela, divertidamente, confirmava: "Mas é verdade! Onde já se viu um Natal sem tâmaras?!"
Com o primeiro neto começando a falar, ela recebeu um novo apelido. Ele não queria chamá-la de vovó e sim de "meu amor", mas como não conseguia saía "minamô", que depois ficou somente "Mina". E assim todos que conviviam com a família passaram a conhecê-la com este "nome" sem as vezes nem saber qual era o seu verdadeiro.
Com sua Fé seguia em frente, adorando a Deus e curtindo seus cantores preferidos: Beatles, Bee Gees, Enya e Barry White.
Mina era uma mulher forte, que segurava a barra de todos, chorava com os filhos, mas dizia sempre "mamãe tá aqui!". Quando alguém se desesperava com algo, uma conta que precisava pagar, uma dor que não passava, uma chateação no trabalho, ela dizia calmamente: "Reze! Você não confia em Deus?! Ele tá vendo tudo e vai ajudar!"
No ano de 2010 foi diagnosticada com Parkinson e isso fez o mundo desabar sobre sua família, mas ela se manteve firme até quando já não podia mais cozinhar, preparar uma mesa bonita, ou andar sozinha. Teimosa, quando não havia alguém por perto, lá estava ela tentando se levantar, subir em escada, lavar a louça... Nestas situações os filhos brincavam que iriam lhe dar umas palmadas no bumbum para ver se ela se aquietava e ela ria da brincadeira...
Com a chegada do Coronavírus ela que respeitou religiosamente o isolamento, os procedimentos e orientações recomendadas para dele se prevenir, acabou contaminada e faleceu em 09 de março - mesmo dia em que sua mãe também havia partido 19 anos antes – encerrando uma vida permeada de amor.
Hilma nasceu em Belém (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Hilma, Bettina Alesaandra Canélas Cardoso Florenzano. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Vera Dias, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 20 de dezembro de 2021.