1993 - 2021
Seus aniversários eram todos comemorados com festas temáticas, da decoração ao aniversariante fantasiado.
O nome Ian carrega conceitos significativos como “Deus é gracioso”, “Agraciado por Deus”, “Deus perdoa” e "Um presente e graça de Deus". E foi assim que Ian chegou na vida de seus pais: como um presente de Deus. A mãe, Isabel, contava apenas 16 e o pai, Christian, estava com 18 anos na época.
Sua chegada e os primeiros meses foram de muita luta para Isabel, que estava concluindo o Magistério e precisava levar o carrinho de bebê para a sala de aula. Contudo, teve apoio do pessoal da escola e, não havia um momento sequer que Isabel precisasse pedir para alguém tomar conta dele, cada uma das amigas disputava o menino como se fosse um filho e, no dia a dia, as mães das amigas consideravam o menino como um neto. Ian foi um bebê iluminado e, com sua doçura, educação e carisma, logo se tornou um menino muito querido.
O sonho de cursar Medicina foi abdicado pela mãe, ela queria oferecer a Ian uma infância melhor do que a que pôde ter e, graças à manutenção de quatro empregos simultâneos na área da saúde e do apoio do vovô Diomedes ─ que sempre foi sua fortaleza e proteção ─, conseguiu proporcionar uma infância segura, sadia e feliz ao filho.
Muito inteligente, aos cinco anos Ian aprendeu a ler e a escrever praticamente sozinho. Os estudos foram concluídos parte em escola particular, parte na rede pública. Sem nunca perder um ano e, como aluno exemplar que era, tirava apenas boas notas.
Desenhista de mão-cheia, todos admiravam suas criações. Era leitor voraz das histórias de Maurício de Sousa, sendo sempre comparado à Mônica ─ a personagem "dona da rua" ─ enquanto ele, na vida real, conquistou diversos amigos de infância no condomínio e era o mais popular. Desde bem pequeno e com sua alegria e voz grave “dominava o pedaço”.
Na infância, tinha seu próprio ritual na hora das refeições e dizia: “Primeiro o feijão, mãe! Se não tiver feijão, não enche minha barriga”. Bife, arroz, farofa e salada de tomate foram sendo incorporados à alimentação a partir dos oito anos e, depois, Ian se tornou um louco por churrascos.
Seus aniversários eram todos comemorados com festas temáticas que contavam, além da decoração, com o aniversariante fantasiado de um dos seus personagens favoritos. Sua inocência foi se diluindo naturalmente e, quando as pessoas diziam que ele era muito inocente para a idade, a mãe respondia: “Deixa ele aproveitar tudo que só a infância pode proporcionar de melhor até conhecer as durezas da vida e, na hora certa, não vou temer de me encarregar de fazer isso”.
Foi um menino mimado? Sua mãe acredita que sim, mas Isabel conseguiu equilibrar mimo com independência desde muito cedo na criação do filho mostrando-lhe as realidades da vida, dando-lhe obrigações e incentivando o convívio com a família paterna sempre. Dessa maneira, conseguiu ser um porto seguro até quando ele acordava chorando por causa de um pesadelo.
Isso lhe garantiu uma infância linda, cheia de amor e amizades que permaneceram até a vida adulta, agregados aos que foram chegando mais tarde, mas todos sempre foram unânimes em afirmar que Ian era um menino puro, daqueles que transmitem bondade e alegria.
Quando Ian fez oito anos, ganhou mais dois irmãozinhos: João, de sete anos à época, e Pedro, de cinco, filhos de Marcos, com quem Isabel iniciou um novo relacionamento. “Logo nos tornamos uma família e naturalmente adotei a família toda de Marcos como minha”.
Os três meninos se tornaram grandes amigos, eram bastante parecidos e conviveram harmoniosamente se organizando até para jogar no computador. Isso lhe garantiu uma infância linda, cheia de amor e amizades que permaneceram até a vida adulta. Os três meninos se tornaram grandes amigos, eram bastante parecidos e conviveram harmoniosamente se organizando até para jogar no computador.
Ian teve uma família que se ampliou naturalmente garantindo a ele muitas opções e convivência. Teve cinco irmãos: além dos dois filhos do padrasto, teve mais dois por parte de pai e outro irmão materno. Pôde ainda contar com três mães: Isabel, a biológica e que nunca desgrudava dele; Ninha, a avó materna com quem gostava de jogar cartas e sua sogra, Silvania, que também foi uma mãe. Sem deixar de falar de Loli, avó de sua esposa, que o abraçou como neto. Ele era o rei da casa das três mulheres, quando foi morar com Dane.
Teve quatro pais: o biológico; o avô materno, com quem conviveu estreitamente até os nove anos; um tio paterno, Francis, que foi amigo durante a vida toda e o padrasto, que foi bastante presente em sua criação.
Não foram poucas também as tias, tanto as amigas como as irmãs da mãe, que apesar da distância, por viverem na Europa, eram uma presença constante na vida de Ian. As amigas da mãe eram chamadas de "tia" e todas eram apaixonadas por ele.
Houve, no entanto, algumas modificações comportamentais que preocuparam Isabel no início da puberdade do filho, mas com carinho e atenção, a fase foi contornada. Aos 15 anos, Ian ganhou mais um irmão, Gustavo, e os dois ─ como bons baianos ─ nasceram perto do Carnaval, a festa que ele mais amava: Ian nasceu em uma quarta-feira de cinzas e o irmão em uma madrugada de terça-feira, precedendo a lua nova.
A vida adulta foi enriquecida pelo amor da esposa Danielle, sua companheira por quase oito anos que a ele se refere como “o grande amor de minha vida e por quem seria capaz de dar a minha existência”.
Ian foi sempre muito amado por sua alegria, educação e por conviver “de boa” com as pessoas, como se costuma dizer na Bahia. Isabel recebe muitos relatos dos amigos, que Ian não deixava ninguém triste! Logo dava um jeito de fazer a pessoa sorrir. Os relatos indicam que Ian era um amigo de verdade, aquela pessoa que você sabe que pode contar. Um menino de ouro, indignado com a dificuldade e o sofrimento dos outros. O consolo por perdê-lo, é ter vivido com ele muitos momentos de felicidade.
Ian Iago, foi feliz, livre, amou e foi amado por 28 anos, intensamente!
Aos amigos de Ian, Isabel deixa como mensagem de agradecimento pelo apoio deles recebido, as seguintes palavras: “Ian sempre foi minha luz, minha força e agora é meu anjo. Sempre tive o maior prazer em ajudar o próximo, sem esperar nada de volta. Recebi tanta ajuda no momento mais cruel da minha vida, que tiro forças não sei de onde, para enviar um pouquinho de conforto para todos vocês”.
Ian nasceu em Salvador (BA) e faleceu em Salvador (BA), aos 28 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela mãe de Ian, Isabel Carina Gramacho Santiago. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Vera Dias, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 16 de agosto de 2021.