1959 - 2021
Amava nadar. Sempre que podia, lá estava ele em Caraguatatuba, onde costumava descansar e aproveitar as férias.
“O plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória.” Com essas palavras, Moises Antônio, morador da Zona Leste da capital paulista, alertava os familiares e amigos sobre a importância do cultivo de boas ações e bons pensamentos, já que na vida sempre colhemos o que plantamos.
Construir a vida em São Paulo foi um grande desafio vivido e superado por Moises e seus pais. A família decidiu, na década de 1960, mudar para a capital na expectativa de melhorar suas condições de vida. Lá, com a sua amada Nice, companheira por trinta e seis anos, Moises constituiu uma linda família, formada por cinco filhos, sendo um homem e quatro mulheres.
Consolidou sua carreira profissional como servidor público no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, onde foi um exemplo de determinação, força, dedicação e honestidade. Sempre proativo, não deixava nada para depois. Como o personagem MacGyver, tinha facilidade para resolver problemas complexos e por isso era tão demandado para apoiar os colegas. Foi e continuará a ser uma inspiração para a sua filha Mariângela, advogada, que lembrou com carinho do dia em que fora surpreendida pelo seu pai, que acompanhava, muito emocionado, um júri simulado em que ela estava a defender uma tese.
Era um homem muito sério, organizado, metódico e conservador. Vestia-se e falava de maneira formal. Detestava palavrões. Quem não o conhecia, facilmente o taxava de durão. Ledo engano: para amolecer o coração daquele grande homem, bastavam apenas a presença dos netinhos e os carinhos da sua gatinha Xane. Também desarmava-se quando assistia a bons dramas (estes faziam suas emoções transbordarem!) ou quando se divertia com as filhas ao som da música Girls Just Want To Have Fun, da cantora Cyndi Lauper.
Sim, “sempre existiu amor em SP!”, e Moises foi uma das suas expressões mais genuínas na grande metrópole. Sem nenhuma pretensão, foi um exemplo prático de como é possível amar os outros como, ou mais que, a si mesmo. Doava-se aos trabalhos voluntários ajudando moradores de rua, alimentando-os e aquecendo-lhes o corpo e a alma. Para Moises, isso era muito mais que alimentos e cobertores; era atenção e empatia. Um detalhe: só o seu núcleo familiar e seus amigos muito próximos sabiam desses nobres gestos, por acompanharem de pertinho a sua rotina diária.
Torcedor do Santos, Guege, como era carinhosamente chamado pelos mais chegados, assistia pela TV a todas as partidas em que o time do coração disputava. Carne assada, arroz e feijão compunham o seu prato predileto.
Moises segue vivo nos corações e nas mentes de todos aqueles e aquelas com quem interagiu dividindo amor, compartilhando experiências e construindo positivas memórias. A simplicidade, o altruísmo, o amor sem medidas e o profissionalismo foram elementos que tornaram singular a trajetória de Moises, o qual número nenhum será capaz de representar.
Moises nasceu em Lins (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 62 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Moises, Mariângela de Jesus Purcino. Este texto foi apurado e escrito por Fabrício Nascimento da Cruz, revisado por Débora Spanamberg Wink e moderado por Rayane Urani em 19 de agosto de 2021.