1947 - 2021
Empreendedora, do pedal de sua primeira máquina de costura até sua linda loja de aluguéis, ela sempre foi a estrela.
Mãinha era uma mulher forte, que começou a trabalhar muito cedo. Empreendedora, amava o que fazia. Iniciou como costureira e mais tarde tornou-se comerciante.
Começou com uma máquina que funcionava com o impulso dos pés. Quando ficava cansada, os filhos mais velhos pedalavam para ela, que guiava a costura perfeita e bem-acabada. Sempre contava que preferia trabalhar e ser independente, sem se dar conta de que estava sendo pioneira no campo da libertação feminina.
Da sala de sua própria casa foi para uma salinha conjugada e em seguida para um espaço maior, instalando sua primeira loja dentro do terreno da casa. O negócio cresceu e ela abriu uma loja maior, no mercado municipal.
Com o tempo, quando se cansou de ser costureira — e não dava mais conta da loja e das encomendas —, muito visionária, percebeu que se ampliasse a loja para aluguel de roupas de festa para noivas, madrinhas, debutantes e batizados, ela poderia descansar um pouco das encomendas. Então, empreendeu mais uma vez e, numa área comercial movimentada, montou sua linda loja de aluguéis. Ela sempre falava que não dava conta de tanto trabalho, mas era o que ela amava fazer, por isso nunca parou. Por sua bravura e coragem para empreender, recebeu vários prêmios da Associação do Comércio da cidade.
Engana-se quem pensa que ela só cuidava de seus negócios! Ela ainda encontrava tempo para se dedicar à Igreja Católica. A filha, Maria Gildacy, relembra um pouco dessa época especial: “Quando mudei pra São Paulo, mãinha ficou muito amiga da minha sogra, Dona Neném. A dupla, Ciete (como era carinhosamente chamada) e Neném, estava sempre no coral, cantando aos domingos, e mãinha nunca ficou nos bastidores. Sempre gostou de atuar nos palcos e foi assim que se destacou também nas pastorais da Igreja de que fazia parte. Quando ia visitá-la, sempre falava: 'Mãinha como você consegue ter tempo de fazer tanta coisa?' Ela sorria e dizia: 'Eu gosto'! Após a sua partida, descobrimos que ela distribuía sua renda não só para a Igreja, mas também para a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). Ação que a minha irmã deu continuidade com o nome de Influenciadores do Bem".
A filha afirma que poderia ficar horas falando de tanta coisa que a mãe gostava de fazer. Conta que sua prioridade sempre foi a família. É como ela dizia, seguindo Madre Tereza de Calcutá, "o amor começa cuidando dos mais próximos, dos de casa..."
Maria das Graças sempre lutou, junto com marido, para dar o melhor para os seus seis filhos. Todos estudaram e cada um escolheu o rumo que gostaria de tomar. Estavam sempre presentes nos melhores e piores momentos da vida dos filhos e ajudaram todos a adquirir a primeira moradia, porque, para eles, ter um teto para morar era a coisa mais importante.
Às vezes, quando acontecia de ver os filhos brigarem, ela se entristecia; mas, do seu jeito, tentava mudar essa situação. Maria Gildacy, que percebia sua tristeza à distância, conta: “Eu telefonava para ela bem cedinho, e percebia que algo estava acontecendo. Ela chorava, desabafava e eu sempre ouvia, sabendo que ela iria encontrar uma saída. Mainha era assim, sempre encontrava uma saída”.
Maria das Graças não restringia sua atenção somente ao marido e filhos. Pensava também no restante da família, tanto a dela, quanto a do marido. Depois da morte de sua mãe, Dete, ela passou a ser a matriarca que fazia todas as reuniões em datas festivas e aniversários.
Amava uma festa em família e viajar. Gostava de ir para São Paulo, passear, fazer compras, e dar uma passadinha no Santuário de Nossa Senhora Aparecida. Também adorava ir para a praia no Ano Novo e tinha um sonho, que pôde realizar: tirou um mês de férias na praia. Chegou a ficar lá alguns dias sozinha com o marido, e a família tem lindas fotografias desse período.
Quando veio Joaquim, o pitoquinho, o neto caçula, a vida de Maria das Graças se acalmou. Aos poucos foi se afastando do trabalho, e se aposentou para cuidar desse neto, da maneira mais linda! Era tanto amor pelos netos e bisnetos, que dava para sentir a quilômetros de distância. Ela dizia: "Filho é amor único, neto é amor dobrado e bisneto então..."
Ela queria ainda realizar muitas coisas, mas foi interrompida, conforme conta Gidalcy: “Veio a Covid-19 e o meu maior medo era eles estarem na Bahia e eu presa em São Paulo, ouvindo as notícias e ficando cada dia mais apreensiva. Mãinha era super saudável, cuidava-se muito bem, ia regularmente aos médicos. Mas painho não. Teve AVC, retirou a vesícula em cirurgia de emergência e o nosso medo maior era em relação a ele. Ela primeiro cuidou da minha irmã caçula e depois do meu pai. No dia em que foi ao hospital ver como estava, lá ficou, para nunca mais voltar”.
Ela esteve preocupada com todos até o fim e suas últimas mensagens foram: “Rezo por todos que aqui estão internados, para que fiquem em paz" e "Josinha (nossa caçula, Joselita, que mora na mesma casa)", cuida de Gison (jeito que ela carinhosamente chamava painho) e Joaquim...”, conta a filha.
Saber que sua bondade fez com que o sofrimento pela Covid-19 fosse de apenas um dia é o que consola a família.
Maria nasceu em Ipecaetá (BA) e faleceu em Santo Estevão (BA), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Maria, Maria Gildacy Araújo Lôbo Gomes. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso e Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 26 de março de 2023.