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Francisco do Espírito Santo

1928 - 2020

Um eterno espírito jovem, que amava passear e que sempre dizia que "viver é bom demais".

A grandeza de Francisco não se mede pela sua altura. Além de franzino, com o passar dos anos, o peso da experiência acumulada o fez curvar e até diminuir de tamanho, mas só no físico.

A grandeza de Francisco é medida pelo seu legado em forma de gente: foram sete filhos, 29 netos, 31 bisnetos e cinco tataranetos. E tudo começou da união com Maria do Socorro, que o chamava de "Baiano", em um casamento que durou mais de 70 anos.

As crianças da família o amavam porque o enxergavam como uma criança também. A neta Ângela, que foi criada com Francisco até os 12 anos, conta que seu avô "era velho com espírito de jovem". Uma definição que faz jus a um homem cuja maior paixão era a vida e que cultivava o sonho de viver até os 110 ou, quem sabe, até os 120 anos.

Lúcido e forte, Francisco era chamado pelos amigos de "Fera Ferida". O apelido veio porque, apesar da idade, nunca deixou de ser valente e animado. Acredite você, que este eterno jovem, ainda pegava mototáxi para ir sacar seu INSS no banco todo mês e que, no dia a dia, não recusava um convite sequer, para passear. Tinha até o hábito de "fugir" para ir conversar com o amigo, dono do mercadinho local!

Francisco era pura mansidão, paciência e amor. Demonstrava tudo isso ao solicitar à bisneta, Pitê, que lhe fizesse apresentações exclusivas depois que a menina chegava em casa das aulas de balé. E era também pura alegria e assim, cativava a quem quer que fosse. Até mesmo na UPA, onde ficou, ele divertia todos ao responder um sonoro "amém" a cada vez que o enfermeiro chamava seu nome: Francisco do Espírito Santo.

E é seguindo essa mesma fé, que o coração da neta Ângela se conforta e se alegra, ao pensar que sua melhor referência de família está ao lado de Deus.

No Céu, Francisco deve estar comendo saborosas fatias de bolo de milho com queijo e cantando modas antigas ao lado do primogênito, José, que se foi alguns dias antes e que agora lhe faz companhia.

Francisco nasceu em Pernambuco e faleceu em Belém (PA), aos 92 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Francisco, Ângela Trindade. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Larissa Reis, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 18 de julho de 2020.