1954 - 2021
Foi um realizador de sonhos: seus empreendimento prosperaram graças à sua gentileza no trato com todos e sua visão de futuro.
Sonho é uma palavra entendida por muitos de forma pejorativa, quase como "devaneio". Quando se diz que uma pessoa é sonhadora, muitas vezes soa como se ela estivesse pensando em algo impossível de ser realizado; mas esse não era o caso de José Carlos, o realizador de sonhos.
De família humilde, criado na roça, logo cedo percebeu que a pequena Ribeirão Claro não daria vazão à concretização de seus sonhos; então, partiu para São Paulo. Era ainda bastante jovem e por lá trabalhou na construção civil e aprendeu que a vida e os limites eram gigantes comparados à vida pacata e bucólica do interior do Paraná.
Retornou às origens com os horizontes ampliados e deu início a uma trajetória de sucesso no meio empresarial. Sua primeira empreitada foi uma pequena padaria. Em seguida, contando com a ajuda da fiel escudeira Teresa, sua esposa, abriu também uma loja de artigos de vestuário.
Ribeirão Claro, no entanto, continuava pequena. Foi quando decidiu transferir-se para Jacarezinho onde, em 1993, inaugurou a Panificadora Molini’s. A cidade de 40 mil habitantes nunca tinha visto um empreendimento com tamanha beleza e qualidade, e logo foi conquistada pelo carisma e docilidade no trato de seu idealizador. Era muito conhecido na cidade e foi vice-prefeito, de 2013 a 2016.
Atento ao mercado, Molini percebeu que grande parte da população fazia suas compras fora de Jacarezinho. Então, em 1995, adquiriu seu primeiro mercado, o Super Norte; depois adquiriu um prédio — um cinema abandonado — e ali instalou sua segunda loja no setor supermercadista, o Super Center. Mais uma vez estruturou um supermercado de primeira qualidade, trazendo novidades até então desconhecidas.
Foi dali que nasceu o Ponto Extra e a rede não parou mais de crescer. Dessa vez, era Jacarezinho que não comportava mais a amplitude dos sonhos desse grande empreendedor. E lá se foi o Zé Carlos para Santo Antônio da Platina, onde fundou sua quinta loja, seguida pelas unidades de Cornélio Procópio, Bandeirantes e mais outra em Santo Antônio da Platina, consolidando uma rede invejável no norte pioneiro do Paraná.
Em Jacarezinho, em meados de 2020, Molini iniciou a construção de sua quinta loja na cidade, mas partiu antes de ver mais esse sonho se tornar realidade.
"Meu pai era um homem generoso, dono de um enorme coração. Gostava de ajudar o próximo, de compartilhar sua visão... Toda a família e os amigos o procuravam para pedir conselhos de como prosseguir diante de um desafio. Ele era sábio, o 'nosso professor', como a família o chamava carinhosamente. Estava sempre ensinando, guiando pelo bom caminho; era o porto seguro da família. Ensinava com amor, com a alma... fazia o bem sem olhar a quem", conta a filha Ana Carla.
Como bom filho de uma numerosa família de descendentes de italianos, Molini fazia questão de se reunir com a mãe e os irmãos em torno de uma mesa recheada de pratos típicos na pequena Ribeirão Claro ─ um de seus lugares favoritos.
Em cada viagem que fazia, aproveitava para sacar ideias novas e trazê-las para suas lojas. Era um exímio observador do mercado, não gostava de falar em público, mas adorava uma conversa pessoal com quem quer que fosse. Não permitia que a timidez ao discursar o impedisse de participar da política, da filantropia e das associações, sempre levando seu recado de forma simples e assertiva. "Frequentemente apareciam no escritório fornecedores, amigos e conhecidos atrás de um conselho dele. Ele os atendia com prazer e dividia com generosidade sua visão e auxílio", relembra Ana Carla.
Apreciador de cerveja, não permitia que o trabalho fosse sua única fonte de satisfação e prazer. "Amava uma macarronada, música em volume alto e casa cheia; adorava os domingos em família, estar com os irmãos e sobrinhos. Sua paixão era a netinha Giovanna", conta Ana Carla. "Ele entendia a leveza das crianças e dizia: 'Deixa que são crianças'. Em seu olhar encontrávamos segurança e compreensão".
"Adorava uma boa conversa, uma pescaria e os amigos. Nunca se esqueceu de nenhum deles, fez o que pôde para ajudá-los e sempre uniu e cuidou da família. Trabalhou desde muito cedo para ajudar sua mãe a criar seus irmãos, foi um grande filho. Amava os convites para dar palestras nas escolas sobre sua vida e contar para os jovens que, sim, com trabalho, ética, disciplina e persistência é possível crescer na vida e ser bem-sucedido, só é preciso acreditar."
Amado pela família, amado pelos amigos, clientes, colaboradores e fornecedores, deixa como legado a marca de que o sucesso é perfeitamente compatível com a ética, a honestidade, a amizade e a firmeza de propósitos. Amigo dos amigos, deixa saudade no coração de todos e o sentimento de que se perdeu um irmão.
À netinha Giovanna, que ainda não tem idade para saber da grandeza do avô que quase não conheceu, fica esta singela homenagem. O vovô foi um grande homem, que fará muita falta.
"Com sua partida ficou faltando em todos nós um pedaço, mas seguiremos em frente por ele que agora vive em cada um de nós. O amor permanece, pois mais forte que a morte é o amor", conclui a filha.
"Aprende comigo enquanto estou aqui" era uma das frases mais comuns desse empreendedor nato, que teve uma linda trajetória de superação e crescimento. Felizes os que aproveitaram e ainda aproveitam os ensinamentos passados com sabedoria e generosidade por Zé Carlos.
José nasceu em Ribeirão Claro (PR) e faleceu em Curitiba (PR), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de José, Ana Carla Molini. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 14 de fevereiro de 2022.